Ao longo destes 40 anos de prática, digo bem de prática, treino, suor, lágrimas mas sobretudo muito prazer, muitas foram também, as questões, os obstáculos que com muita dedicação, empenho e coragem consegui superar.
Escrever sobre as Artes Marciais e o Karate em particular, não sendo uma vocação é para mim uma missão, um dever, tanta me parece ser a confusão reinante na comunidade marcial.
Para ponto de partida e em antes de qualquer pensamento, atitude ou acção, temos de rever o nosso conceito sobre o significado da palavra Karaté.
Para muitas pessoas o Karaté é algo de violento, desprestigiante, inútil, coisa para quem não tem mais que fazer da vida e ou que não passa de uma forma de luta. Para outros, uma espécie de dança ou ginástica em que os intervenientes são muito maus. É claro que os filmes contribuíram para popularizar o Karaté dessa maneira errada mas demonstra inegavelmente a falta de visão, informação e até formação do que é o Karaté verdadeiramente.
Karaté é uma Arte Marcial e também para muitos é uma forma de estar na vida, partilhando objectivos comuns como o Judo, Kendo, Aikido, a Cerimónia do Chá, em cultivar o treino físico, técnico e espiritual.
Também podemos afirmar que o Karaté torna o impossível em possível, mesmo para o homem desarmado, ajudando-o a alcançar os objectivos na vida. O treino físico é de tal forma severo que naturalmente também implica um treino psicológico exigente. O Karaté é um método para reunir o corpo e o espírito, tornando a vida humana ao mesmo tempo mais ampla e profunda.
Antes de iniciar algumas reflexões, fruto de muito estudo nos últimos tempos, quero deixar algumas considerações de sosai Mas Oyama. Um homem que influenciou definitivamente a abordagem, o conceito e conteúdo técnico, físico e mental das artes marciais e de combate em geral e do Karate em particuçlar e, que milhões de estudantes reconhecem influência decisiva nos seus treinos na sua postura interna e externa.
Extractos da bibliografia de Mas Oyama
No Karaté, mais importante que a técnica ou a força, é o espírito que vos permitirá agir em total liberdade. Para se conseguir uma boa atitude de espírito, é necessário praticar a meditação Zen. Está certo, quando se diz que esta meditação necessita de um estado de ausência de pensamento, criando condições para que as nossas possibilidades possam emergir.
O estado Zen de renúncia de si mesmo é a mesma rejeição dos pensamentos egoístas e a preocupação no bem estar pessoal que o artista sente em plena criação. O homem que quer seguir a via do Karaté, não pode deixar de praticar Zen e o aperfeiçoamento espiritual.
A traição de Brutus para com Júlio César é bem conhecida. É impossível que uma pessoa do género de Brutus, possa existir no seio dos meus numerosos alunos. E não sei o que faria em semelhante situação… É muito provável que eu esmagasse essa pessoa, mas não deixaria de me afligir. É fútil perseguir alguém que já fugiu. Os traidores geralmente perdem os seus amigos e muitas vezes a traição é inspirada pelo interesse do dinheiro ou do protagonismo. Mas, aqueles que se apercebem, acabam por abandonar o traidor que é, então, traído pelos próprios amigos.
Fiz com que o Karate Kyokushin fosse célebre em todo o mundo, não só pela potência e rigor dos seus métodos de treino, mas, também, pela maneira como ele transmite a humildade e o respeito pelos outros.
O homem deve procurar a aventura, deve saber combater e explorar. Deve fixar-se um objectivo e viver para o conseguir. Um homem é forte quando tem um objectivo pelo qual luta.
Mas o homem mais forte do Karaté também pode ser o mais fraco, porque sabe que pode matar com um só golpe. Um homem deve aprender a controlar-se. Comecei a ter pesadelos, nos quais a mulher desse japonês chorava pela morte do seu marido.
Decidi mudar, radicalmente, a minha vida a partir desse momento. Não tendo habilidade para os negócios, escolhi outra via e decidi dedicar o resto da minha vida ao Karaté-Do.
As minhas vitórias foram determinantes para a expansão e credibilidade mundial do Karaté. Tenho o recorde de vitórias contra Boxers de Inglesa, Muai Tay, Judokas, Karatekas e lutadores de toda a espécie. Venci, com as mãos nuas, touros furiosos. Estou convencido que enquanto puder utilizar o Karaté, serei imbatível numa luta sem armas.
Um homem nunca conhecerá o verdadeiro sentido das artes marciais, enquanto não tiver uma experiência no combate real. Para se merecer o nome de Karateka, é necessário encontrar e dominar o verdadeiro perigo. Sou, provavelmente, o único japonês do pós-guerra a estar, tantas vezes, confrontado com a morte.
Por isso, fui desprezado por pseudo pacifistas que não percebiam nada sobre o combate real. Digam-me o que se deve pensar, de instrutores que transmitem uma espécie de dança de Karaté aos seus alunos, técnicas, espírito de combate, se eles nunca combateram.
A essência do Karaté está no combate.
Cabeça baixa, sinônimo de respeito mas olhos levantados, ambição.
Shihan Antonio Pereira 6º Dan